True Crime: Por que mulheres consomem mais conteúdos de crimes reais do que homens?

O interesse por crimes reais é um fenômeno crescente, mas há um dado que chama atenção: as mulheres são as principais consumidoras desse tipo de conteúdo. Em um estudo conduzido em 2010 , a Universidade de Illinois descobriu que as mulheres representavam 70% das avaliações de romances sobre crimes reais na Amazon. 

Enquanto elas optam por histórias que detalham assassinatos e crimes brutais contra vítimas que muitas vezes se parecem com elas, os homens tendem a preferir livros de não ficção sobre guerra ou violência de gangues. Mas por que as mulheres são tão atraídas por um gênero que frequentemente retrata vítimas femininas?

Empatia e Identificação com as Vítimas

Uma das explicações mais aceitas por pesquisadores é que as mulheres se identificam com as vítimas desses crimes. Segundo o professor de criminologia Scott A. Bonn, as fãs de true crime sentem empatia por essas histórias porque, em sua maioria, as vítimas são mulheres. Isso as leva a se imaginarem no lugar delas e a desenvolverem um interesse quase instintivo pelo tema.

Além disso, a ONU Mulheres estima que cerca de 736 milhões de mulheres já foram vítimas de violência física e/ou sexual ao longo da vida. Diante dessa realidade, consumir conteúdos de crimes reais pode ser uma forma de tentar entender melhor os perigos que enfrentam diariamente.

O True Crime como uma Forma de Prevenção

De maneira consciente ou inconsciente, muitas mulheres acreditam que podem aprender algo útil ao consumir esse tipo de conteúdo. Ao conhecer as circunstâncias dos crimes, padrões dos criminosos e possíveis sinais de alerta, elas sentem que podem aumentar suas chances de autoproteção.

Os dados corroboram esse medo: entre 1985 e 2010, 70% das vítimas de serial killers eram mulheres. Segundo uma pesquisa do FBI, em assassinatos em série, a vítima tem 3,5 vezes mais chance de ser mulher do que em homicídios comuns. Essa estatística pode explicar por que tantas mulheres se sentem atraídas por histórias de true crime—não por mero fascínio mórbido, mas como um reflexo de uma preocupação legítima.

A sensação de controle

Existe um paradoxo curioso: consumir conteúdos de crimes reais pode trazer um certo alívio. Como escreveu PE Moskowitz na Mother Jones:

“O medo e a raiva de uma mulher podem ser coisas poderosas. Essa é a virtude do crime verdadeiro”,  escreve PE Moskowitz em  Mother Jones . “Nenhum outro gênero chega ao cerne, ao sentimento incômodo que a maioria, se não todas as mulheres, abrigam – que tudo está bem, provavelmente, mas também pode não estar. Eu posso ser assassinada só por existir.”

Em outras palavras, acompanhar histórias de crimes reais pode ser uma forma de transformar o medo difuso da violência em algo concreto e compreensível. Se estamos lendo, ouvindo ou assistindo a um caso de assassinato, significa que, naquele momento, estamos seguras. Essa percepção, por mais paradoxal que pareça, pode proporcionar um sentimento de controle sobre um mundo que muitas vezes parece caótico.

A Busca por Justiça

Outro fator que atrai mulheres para o gênero é o interesse pelo sistema de justiça criminal. Muitas querem entender como investigações são conduzidas, como criminosos são capturados e quais falhas existem no sistema. Lindy Boustedt, produtora e diretora do podcast A Senseless Death, descreve esse sentimento:

Alguns são atraídos por crimes reais por interesse no sistema de justiça criminal ou por desejo de justiça. “Histórias de crimes reais me permitem buscar uma sensação de conhecimento, uma sensação de compreensão para que o mundo não pareça tão caótico”, diz Lindy Boustedt, produtora e diretora da First Sight Productions e apresentadora do podcast A Senseless Death . “Também é uma busca por justiça.” 

Além disso, ver criminosos sendo capturados e condenados oferece uma sensação de fechamento e justiça—algo que, na vida real, muitas vezes não acontece.

O Conforto na Narrativa

Crimes reais sintetizam os tópicos complicados de vida: morte, justiça e violência. Embora true crime trate de temas sombrios, ele se encaixa dentro de uma estrutura narrativa reconfortante. Histórias de crimes reais seguem padrões familiares dos gêneros de mistério e suspense: um crime acontece, há uma investigação, um suspeito é encontrado e, na maioria dos casos, um desfecho é apresentado.

Isso permite que o público absorva informações sobre os piores tipos de violência dentro de um ambiente controlado—seja um documentário, um podcast ou um livro. Ao contrário da vida real, onde a violência pode ser inesperada e caótica, no true crime é possível pausar, parar ou retomar a história a qualquer momento.